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Edição #18
Florença, 2025

A noção de Bom surgiu da exaltação dos nobres antigos que olhavam para si mesmos e então criavam os valores que tinham sobre si mesmos. O próprio nobre rotulou o contrário de Bom como Ruim, num sentido depreciativo de “fraco, coitado”. Originalmente, ser Bom era ser poderoso, e ser Mau era ser bárbaro, mulher ou escravo.

Já a moral fraca nasceu de uma dupla

inversão da moral do forte: o fraco é

ressentido, e interpreta a vitalidade do

nobre como uma afronta, e julga todo

nobre como Mau. Logo, se o nobre é

mau, o escravo inverte e se julga como

bom. Tudo o que o nobre faz, o escravo

"demoniza" e julga como uma agressão.

Nietzsche chamava esse cenário de

"caldeirão do ódio". Nessa ambientação,

o fraco é forçado a usar a sua

inteligência contra o inimigo (o forte).

O Cristo sangrando na cruz são os valores do apequenamento (ie., privilégio dos fracos) do judaísmo sendo "bem sucedidos" numa síntese cristã. É um instrumento sedutor que inverte a moral, pondo o fraco como o Bom e único merecedor da graça divina, nesse tipo de desvalorização da vida. Cristo ter morrido na cruz é um "alívio", mas também uma eternização de culpa.

O fraco precisa acreditar em Deus, Paraíso, Juízo Final etc. Ele precisa crer que será recompensado por todo o seu sofrimento. Nas religiões, remete-se ao Além porque este tem autoridade pelo fato de poder ser "pintado" de Paraíso. O simples movimento de falar do Além supervalorizado já é ódio e negação da realidade – é a incapacidade de suportar a miséria do mundo. É o único consolo para uma vida miserável. A criação metafísica do Além é fraca porque denigre a realidade histórica. Diferente da criação artística, que potencializa a vitalidade e a valorização a partir de si.

A casta sacerdotal é a nata dos fracos. A função do sacerdote é fazer o homem interiorizar a culpa. A culpa tem a ver com a relação do credor com o devedor. A ideia de culpa vem de cobrança. Em alemão, culpa e dívida são a mesma palavra (Schuld). "Perdoai as nossas dívidas (culpas), assim como perdoamos os nossos devedores (ofensores)". A culpa nasceu de algo material, o castigo. Castigar dava prazer simplesmente pela dor alheia. Castigar, em última instância, não é artifício para nada.

A "vingança" dos cristãos é dissimulada e chamada por eles de "Justiça Divina" que será efetuada pelo próprio Deus. Essa inversão de valorização nobre surgiu com Sócrates, que projetou no Além a Bem-Aventurança. Por trás do "otimismo" socrático, que originou a doutrina cristã, existe um alto grau de pessimismo, ao supor que a vida deve ser corrigida. O Cristianismo inverte tanto o sentido de moral que o cristão que prioriza o seu próprio bem estar é mal visto. Pensar individualmente causa horror.​ Mas nada mais antinatural do que culpar o homem pelo que ele é.

É sempre o próprio interesse que motiva rotular algo como Bom e Mau. O que é costumeiramente sentido como tal passa a ter o seu valor definido como tal. Na origem do radical das palavras está a arbitrariedade - toda linguagem surgiu do acaso, porque os "nobres" assim o quiseram. Por isso, não se pode eleger um critério que esteja acima dos outros e tomá-lo como o padrão a ser seguido.​

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“DKANDLE tece paisagens sonoras transcendentes vibrantes e multicoloridas, misturando texturas Shoegaze difusas e reverberantes, meditações Dream Pop hipnotizantes, tons Grunge lamacentos e tensões Post-punk temperamentais, intensificadas com lirismo comovente e vocalizações emotivas e pensativas”

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