Edição #13
Lisboa, 2010
“DKANDLE tece paisagens sonoras transcendentes vibrantes e multicoloridas, misturando texturas Shoegaze difusas e reverberantes, meditações Dream Pop hipnotizantes, tons Grunge lamacentos e tensões Post-punk temperamentais, intensificadas com lirismo comovente e vocalizações emotivas e pensativas”
A Filosofia tem duas grandes vertentes: a Ocidental e a Oriental. A Filosofia Ocidental diz que o estado natural do homem é a angústia. Já a Filosofia Oriental diz que o estado natural do homem é a felicidade.
O que a Filosofia Oriental, principalmente a Hindu e a Budista, dizem sobre a felicidade é que ela não deve ser buscada. Desde o momento em que você cria uma condição para a felicidade - com a atitute do tipo “Só serei feliz se isso ou aquilo acontecer” ou “Só serei feliz quando isso ou aquilo acontecer”, isso só resulta em angústia. Não se deve nunca pôr a felicidade como um objetivo. Devemos aceitar e entender que ela já está aqui e agora, não precisa de mais nada para existir. Você pode se tornar uma pessoa feliz agora mesmo, sem esperar mais nenhum segundo!
Mas falar é fácil né? Para nós, ocidentais, é quase ridículo dizer uma coisa dessas. Como podemos simplesmente ser felizes sem precisar se esforçar? Bem, em nenhum momento se diz que ela vem sem esforço. O grande segredo está na sua atitude perante o mundo.
Na verdade, é impossível vivermos sem contrariedades. O mito de Sísifo diz que a vida é o esforço de rolar uma pedra grande para o topo de um morro, mas essa pedra sempre rola abaixo quando chegamos lá em cima, e devemos voltar, descer e rolar de novo a pedra até o topo do morro, e esse processo é eterno. Ou seja, sempre teremos problemas e contrariedades, e não tem como fugir disso. Mas o que devemos entender é que o negativo é positivo em outra ambientação.
Albert Camus diz que devemos imaginar esse homem que rola a pedra acima feliz, apesar da “perrengue” que é passar a vida toda rolando essa pedra gigante morro acima. Mas a questão toda é que a frustração é um convite à superação. Tudo que é realmente de valor é como um parto: é um processo doído e sofrido, mas no final a recompensa é muito gratificante. Talvez deva ser assim para que possamos dar valor às coisas, e a felicidade só possa vir daí. É que as sombras servem para realçar as partes iluminadas. Se não houvesse escuridão, não teríamos noção da luz.
A única forma de conseguir ser feliz não é desejando buscá-la, mas simplesmente passar a adotar a postura de DIZER SIM AO NÃO. Quando fazemos isso, nada mais nos atinge. Pense que todas as pessoas infelizes e todas as que se suicidaram foi unicamente porque elas disseram Não ao Não… Ou seja, elas não aceitam as contrariedades da vida, e é isso que traz a angústia.
Dizer Sim ao Não não quer dizer que devemos nos tornar pessoas passivas e conformadas. Não é isso! Antes, trata-se de ter serenidade diante das contrariedades, aceitar tudo que vier e enfrentá-la com confiança, e saber que daquela situação, se você perseverar, invariavelmente sairá mais forte, pois como diz Nietzsche: “O que não mata, fortalece”.
OS VEDAS E A FELICIDADE INERENTE AO HOMEM
Os Vedas dizem que a felicidade é o estado natural do homem. Se o desejo de ser feliz, ser ilimitado, não é sujeito à escolha, é natural e universal, sem dúvida não é sem sentido. Quanto mais se vive uma vida consciente, mais o desejo fundamental de ser completo se torna difícil de ser ignorado, e até que se encontre uma solução para este problema, não haverá tranquilidade. O método pelo qual este inquérito se efetua é chamado Vedanta (a última parte dos Vedas).
Os Vedas foram produzidos por mestres indianos (circa 8.000 anos atrás) que tinham visões e as transmitiam oralmente. É a cultura védica. O papel dos Vedas é dar consciência de quem você é e o caminho para percorrer o seu caminho.
Para os Vedas, o Sol fica dentro; a Consciência é iluminadora. O mundo sensível é ilusão, ou maya, que existe por causa da nossa capacidade de ilusão, ou moha, que é a capacidade de nos auto-iludirmos. Há vários níveis de realidade; o mais falso é tomado como verdadeiro pelo senso-comum, onde tudo é baseado nos nossos sentidos.
A filosofia ocidental dirige o seu olhar para a natureza e para si mesmo de modo objetivante. Na Índia, não há essa perspectiva. O que há é a contemplação da natureza e das artes. Assim acessa-se as verdades essenciais, deixando a coisa falar por si, sem intermediários. Você se funde com a coisa e ocorre uma grande comunhão com o Universo, que palavras não poderiam explicar. A essentia não pode ser descrita por palavras.
Jesus Cristo é o único mestre do Ocidente – a filosofia ocidental é puramente teórica, bem diferente da Índia, onde os ensinamentos envolvem todo um esquema, com mestres que transmitiam esses conhecimentos, e suas vidas eram completamente voltadas para esses ensinamentos.
A maior diferença entre a filosofia oriental e a ocidental cristã é a questão da temporalidade. A Índia é reencarnacionista. Ou seja, a ação (kharma) é mais antiga que uma vida só. Cada ação está sempre ligada a um merecimento ou um demérito. Kharma é a ação que você faz. Kármico é relativo às ações que você cometeu. Kharma é a aceitação do seu destino. É um ato necessário da natureza. Dharma é a missão, a função na sociedade. É a parte ética dos valores. O dharma do pai é proteger e amar seu filho, por exemplo. Não podemos fugir do nosso dharma. É o caminho traçado para a nossa vida. O mal é a carência do bem – a mesma coisa é o dharma.
Vedanta é um meio de conhecimento que proporciona o conhecimento do Ser. Nos Vedantas está incluída a famosa passagem Gita. O seguinte verso resume toda a Gita (dito por Krishna a Arjuna): "Falando palavras sábias, você está se lamentando pelo que não é digno de pesar. Aqueles que são sábios não se lamentam nem pelos vivos nem pelos mortos". A tristeza e o remorso são incompatíveis com o sábio. Quem tem conhecimento, está por cima de qualquer contrariedade. Quanto mais ignorante, mais a tristeza se apodera da pessoa.
A causa da angústia pós-moderna ocidental é a ignorância de se identificar totalmente com o corpo. "Eu não sou corpo nenhum; eu sou o próprio Absoluto". Eu não sou individualidade; eu sou mais que a individualidade. Nós somos presença constante; aqui e agora, somos eu e você. O plural de eu não é nós; o plural de eu é eus. Assim como nunca houve um tempo em que eu não existi, nunca haverá um tempo em que eu deixarei de existir. Com esse conhecimento, o sofrimento cessa. É como num cinema onde você vai ver um filme de terror. Você sente medo na hora do filme, mas depois vai tomar sorvete... Aquele medo é maya, é irreal. Todo medo é maya. "Para o inexistente, não há existência e vice-versa, mas ambos são conhecidos pelos visionários da verdade" (0+0=0).
Você gosta do Pensamento Oriental?
Deixe um comentário
abaixo
página anterior: RAVING IN THE UK
próxima página: ALIENCORE (EDIÇÃO #14)
VOCÊ TAMBÉM PODERÁ GOSTAR:
A UTOPIA CRISTÃ
A vida eterna em beatificação é irreal
DE CORAÇÃO
Primeiro conto de Denis Kandle
MÚSICA E ESPIRITUALIDADE
By Gil Mahadeva