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Linhas abstratas
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Edição #11
Rio de Janeiro, 2008

Eduardo Giannetti
publicado na íntegra no Caderno Mais
da Folha de São Paulo de 07/01/07

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“DKANDLE tece paisagens sonoras transcendentes vibrantes e multicoloridas, misturando texturas Shoegaze difusas e reverberantes, meditações Dream Pop hipnotizantes, tons Grunge lamacentos e tensões Post-punk temperamentais, intensificadas com lirismo comovente e vocalizações emotivas e pensativas”

Tônico metafísico, música das esferas... Ao som dessas notas, o cosmos baila e o sentido irrompe do firmamento. Acima de tudo que conheço, reverencio ou posso conceber, a vibração pulsante e a perfeição melódica destes sons traduzem, aos meus ouvidos, a ideia de um universo bom. O que pode qualquer doutrina ou religião instituída, calcada no miasma do verbo, diante da verdade infinita que emana da sua música?

Na obra de Mozart sentimos pulsar a força da crença, senão da existência, pelo menos na possibilidade de existência de uma ordem cósmica que nos transcende. Alguma coisa muito além da nossa capacidade de compreensão, mas que nos é facultado entrever ou intuir no contato com o universo da música. Que a esperança viril e o ânimo luminoso dessa arte estejam conosco na difícil jornada que o século 21 prenuncia.

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O que define a genialidade em arte? Uma primeira aproximação é a permanência no tempo. A obra de arte genial encerra o dom da perpétua revivescência - ela dribla de algum modo o efeito debilitador da passagem do tempo e adquire o poder de dizer coisas novas e reveladoras à sucessivas gerações de apreciadores.

No que consiste a genialidade de Mozart? Perícia técnica e apuro formal fazem parte da resposta, mas estão longe de esgotá-la. O legado de Mozart, ouso crer, é não só o coroamento de um percurso estético, mas a expressão musical mais viva e contundente das crenças, valores e sonhos de um tempo que "ousou saber" - de um projeto transformador que fez da luta e da emancipação intelectual e moral dos indivíduos a a sua grande bandeira.

"Aquele que tem ciência e arte", refletiu Goethe, "tem também religião; quem não tem nenhuma delas, que tenha religião!" Há muito de arte na ciência e ciência na arte. As maiores realizações do espírito humano são totalidades complexas que não respeitam as convenções da linguagem e demarcações burocráticas do saber. O valor de uma criação artística, em qualquer gênero, combina elementos sensíveis, emocionais e cognitivos. O prazer e encanto dos sentidos é apenas a porta de acesso para uma experiência de fruição que mobiliza um amplo espectro de faculdades da mente - sensibilidade e razão, intelecto e emoção.

Adam Smith, filósofo escocês, traça um paralelo entre o poder da música, de um lado, e aquele proporcionado pelo estudo de uma ciência teórica, de outro: "Quando contemplamos aquela imensa variedade de sons agradáveis e melodiosos, organizados e assimilados de acordo com sua harmonia e sucessão, formando um sistema regular e completo, a mente na realidade experimenta não apenas um prazer sensível muito grande, mas também um prazer intelectual intenso, semelhante àquele que ela traz ao contemplar um grande sistema em qualquer ciência."

A natureza é um princípio racional e expressão de uma inteligência transcendente e benévola. Perfeição é quando o bem, o belo e o verdadeiro - ética, estética e ciência - convergem harmoniosamente. Leibniz descreve a música como "um exercício inconsciente de matemática no qual a mente efetua cálculos sem se dar conta do que está fazendo". A estrutura matemática e o apego à simetria formal das composições de Mozart transparece mesmo para aqueles que não possuem qualquer treino em música. O que a música infunde na alma receptiva é um estado de exaltação do ânimo - um sentimento de confiança cósmica - que redime o universo e reafirma a existência por si mesma, independente de qualquer razão ou juízo reflexivo.​

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