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Linhas abstratas
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Edição #15
Lisboa, 2011

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“DKANDLE tece paisagens sonoras transcendentes vibrantes e multicoloridas, misturando texturas Shoegaze difusas e reverberantes, meditações Dream Pop hipnotizantes, tons Grunge lamacentos e tensões Post-punk temperamentais, intensificadas com lirismo comovente e vocalizações emotivas e pensativas”

FONTE: Geometria Sagrada, Robert Lawlor

Atribui-se a Pitágoras ter sido o primeiro a estabelecer a relação entre os números e as frequências de som. Ele foi o inventor do monocórdio, para determinar matematicamente as relações dos sons. Para ele, a estrutura do mundo natural e a ordem como percebemos os fenômenos e objetos à nossa volta (e mesmo em nossa própria mente) podem ser reduzidos a relações entre números. Em particular, números inteiros. Ou seja, tudo é relação geométrica de posições entre os números, inclusive a música. Ela também tem relação de distanciamento, intervalos... Pitágoras descobriu essa relação entre as notas musicais e os números inteiros examinando como as notas são criadas em um instrumento. É fácil fazer o teste com um violão ou uma guitarra: Para obtermos uma oitava mais alta, soamos a corda na metade de seu comprimento, na razão 2/1. Para uma quinta mais alta, soamos a corda a 2/3 de seu comprimento e assim por diante. Com isso, Pitágoras demonstrou a existência de uma profunda relação entre números e o som. Mais ainda, são precisamente as notas que obedecem a essas razões entre números inteiros que são consoantes (esteticamente belos). A união criada por Pitágoras foi além da relação entre a matemática e as notas musicais, trazendo em si o conceito de harmonia, palavra aliás criada pelos pitagóricos.

 

                            Pitágoras abriu o caminho para a ciência como uma                                  descrição quantitativa da natureza, baseado em um                                  arranjo racional dos números, inspirado por noções                                    estéticas. Para os pitagóricos, os números                                                  representavam a relação entre a razão humana e a                                    divina, a linguagem de codificação do mundo externo e interno. O seu objetivo era atingir o êxtase (outra palavra pitagórica) pela contemplação da dança dos números, a criação de ressonâncias entre as harmonias da natureza e as da mente.

Para Pitágoras, o cosmo é um instrumento musical cuja melodia é entoada pelo movimento dos astros, que obedecem a razões entre números inteiros que podem ser identificados com as notas musicais. O cosmo ressoa como a harmonia das esferas. É interessante que a própria ideia de ressonância ocupa lugar essencial na física quântica, representando uma situação onde um sistema responde com tremenda intensidade a um estímulo causado por um agente externo a ele.

Pitágoras desenvolveu a teoria da existência da Harmonia das Esferas, ou Música das Esferas: o movimento dos astros produz vibrações que se ouvidas soariam como melodias definidas. Inclusive pesquisas com relação ao movimento, velocidade e massa dos planetas concluíram que os planetas mais afastados do Sol se deslocam mais lentamente, correspondendo a um som grave e vice-versa. De acordo com estudos astronômicos, o som de muitos pulsares se parece com o de um bongô; o de outros parece com o de castanholas; o som de outros ainda assemelham-se ao barulho produzido pela agulha de um toca-discos quando ela arranha a superfície do disco. A maioria das estrelas simplesmente emite tique-taques aleatórios, há milhões de anos, às vezes de uma forma estranhamente rítmica. Esses “sons vivos” costumam mudar de um dia para o outro, ou até mesmo de uma hora para outra, aumentando ou diminuindo, expandindo-se ou contraindo-se, como se fossem provenientes de um ser vivo.

ONDAS HARMÔNICAS DE ENERGIA

 

O mundo é som? Em caso afirmativo, até que ponto ele é som? Até que ponto o mundo será um grande, inimaginável instrumento musical cósmico? E a estrutura do microcosmo, com seus elétrons e fótons, será, antes de mais nada, som? Porventura as formas das folhas e dos cristais, os corpos dos homens e dos animais, também serão som? E a palavra e a linguagem serão também som, num sentido privilegiado? Somos nós som?

 

Muitas das culturas antigas optaram por examinar a realidade através das metáforas da Música e da Geometria - Música enquanto estudo das leis das proporções das frequências do som. A Geometria é o estudo das relações entre os elementos que constituem as formas. Por trás dos ângulos do triângulo há uma lei universal que diz que um triângulo sempre terá três lados. Esta é a finalidade da Geometria: entender o Universo através da análise de figuras tão simples quanto a de um triângulo. A Geometria, a Astronomia, a Ciência da “ordem temporal” através da observação dos movimentos cíclicos e o estudo da Harmonia e da Música constituíam as principais disciplinas intelectuais da educação clássica na Grécia Antiga. Em seu conhecido diálogo Timeu, Platão conta que o criador fez a alma do mundo – que para Platão significava a ideia de cosmos – segundo os intervalos e as proporções musicais. Com sua música, o cantor divino Orfeu foi capaz de dar forma à matéria informe (para os gregos, isso significava: beleza personalizada).

 

Os diagramas geométricos podem ser contemplados como movimentos de imobilidade que revelam uma contínua e intemporal ação universal, geralmente oculta à nossa percepção sensorial. Para os antigos astrônomos, era o ângulo que especificava as influências das configurações celestes dos acontecimentos da Terra (podemos aí ver a raiz comum entre as palavras inglesas angle [ângulo] e angel [anjo]). Esta era a chamada Geometria Sagrada, que não tem nada a ver com religião, mas sim com a linguagem, o código da criação.

 

A arquitetura da existência corporal é determinada por um mundo invisível e imaterial de formas puras e geométricas. Uma molécula de DNA é composta de genes, formada por átomos de carbono, hidrogênio, oxigênio e nitrogênio. Eles têm uma forma helicoidal. É essa forma helicoidal que detém o código genético. São milhões de relações geométricas perfeitas. Se uma só estiver fora do lugar, a pessoa nasce com algum defeito. Então, o importante é a relação geométrica entre os átomos, não só no DNA, mas em tudo. O que determina o caráter das coisas é essa relação entre os átomos.

 

Tanto os nossos órgãos de percepção como o mundo dos fenômenos que percebemos parecem compreender-se melhor como estruturas geométricas de forma e proporção. A especialização das células no tecido corporal é determinada em parte pela posição especial de cada célula em relação às demais da sua zona. Todos os nossos órgãos sensoriais funcionam em resposta às diferenças geométricas ou proporcionais – e não quantitativas – inerentes aos estímulos que recebem. Por exemplo, quando aspiramos o perfume de uma rosa, não estamos respondendo às substâncias químicas de seu perfume, mas à geometria de sua construção molecular. De forma similar, não ouvimos simples diferenças quantitativas na frequência das ondas sonoras, mas antes as diferenças proporcionais e logarítmicas entre frequências, sendo a expansão logarítmica a base das espirais geométricas. Nossas diferentes faculdades perceptivas, tais como a visão, a audição, o tato e o olfato, são o resultado de diferentes reduções proporcionais, como uma espécie de geometria da percepção.

 

A consciência humana possui a capacidade única de perceber a transparência entre as relações absolutas e permanentes contidas nas formas insubstanciais de uma ordem geométrica e as formas transitórias e mutáveis de nosso mundo real. O conteúdo de nossa experiência procede de uma arquitetura geométrica imaterial e abstrata que é composta de ondas harmônicas de energia, nós de relações e formas melódicas que brotam do reino eterno na proporção geométrica. Todas as dissonâncias tendem a tornar-se harmonia.

 

Reconhecer relacionamentos harmônicos não é objetivo unicamente musical. É o objetivo dos átomos e das moléculas, das órbitas planetárias, das células e dos corações, das ondas cerebrais e dos movimentos, dos cardumes de peixes e dos bandos de aves e, sobretudo, dos homens. O cosmos, a criação, têm como último objetivo a harmonia.

 

Toda a estrutura do microcosmo está repleta de concordâncias harmônicas. Os longos filamentos do ácido nucléico do DNA estão estruturados exatamente de acordo com a tetractys pitagórica - um dos números mais importantes na cosmogonia pitagórica era o 10, que os pitagóricos consideravam triangular. Esse número era chamado por eles de Tetraktys, ou, em português, a tétrada. A Tetractys é uma espécie de pirâmide, ou triângulo onde se inscrevem os primeiros numerais, base de toda numeração ordinal, dando como resultado um número místico, representativo dos quatro elementos base da natureza: fogo, água, ar e terra: ou numericamente : 10=1 + 2 + 3 + 4, série que serve de representação para a totalidade do universo. Assim, a série 1, 2, 3, 4, representa individualmente a mônada, a dualidade, a trindade e o sólido:

 

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Os pitagóricos atribuíam um poder mágico à tetractys; por isso consideravam-na sagrada. A mesma estrutura está quase sempre presente naqueles misteriosos processos em que estruturas inorgânicas são transformadas em vida orgânica. Os quatro átomos de oxigênio, por exemplo, que circundam o átomo de fósforo, vibram na tetractys! Deve-se admitir literalmente o que o Lama Govinda disse: “Cada átomo está constantemente cantando uma canção, e, a cada momento, essa canção cria formas densas e sutis, consistentes de maior ou menor materialidade”.

 

O professor Amstutz, do Instituo de Mineralogia da Universidade de Heidelberg, afirmou: “As ondas entrelaçadas da matéria estão separadas por intervalos que correspondem aos calados de uma harpa ou de uma guitarra, com sequências análogas a acordes harmônicos a partir de um tom básico. A ciência da harmonia musical é, segundo estes termos, praticamente idêntica à ciência da simetria dos cristais.”

 

No século XII, a arquitetura da ordem cisternense obteve sua beleza visual mediante desenhos que se ajustam ao sistema proporcional da harmonia musical. Muitas das abadias daquele período eram conchas acústicas que transformavam um coro humano em música celestial. São Bernardo de Claraval, que inspirou esta arquitetura, disse a respeito da sua concepção: “Não deve haver decoração, apenas proporção.” A geometria trata da forma pura. É uma maneira de tornar visível o mistério criativo essencial. Procurar a verdade sempre significou procurar o imutável, chame-se a isto ideias, formas, arquétipos, números ou deuses. Entrar num templo construído em sua totalidade conforme as proporções geométricas invariáveis é entrar no reino da verdade eterna.

Você acredita que existe realmente uma música das esferas?
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