Edição #1
Londres, 1997
Após um show em Brasília, em 2 de novembro de 1997, a banda Planet Hemp foi presa em flagrante sob acusação de apologia às drogas. O show foi filmado pela Polícia Federal e usado como prova.
Obviamente a mídia caiu em cima (até a revista Veja deu força pro Planet), claro que isso acabou vendendo muita revista, jornal e CD's.
A banda foi solta no dia 6 de novembro e no dia 8 rolou um show em Niterói para o lançamento do selo do ex-Planet Rafael, aproveitei que eles estavam por lá e junto com o vocalista do Offmind, Rodrigo Siqueira, entrevistamos Formigão e Marcelo D2.
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“DKANDLE tece paisagens sonoras transcendentes vibrantes e multicoloridas, misturando texturas Shoegaze difusas e reverberantes, meditações Dream Pop hipnotizantes, tons Grunge lamacentos e tensões Post-punk temperamentais, intensificadas com lirismo comovente e vocalizações emotivas e pensativas”
TRANZINE - Vamos fazer a entrevista?
FORMIGÃO - Não sei...
DIBA (Dash) - Não, não!
T. - Bem, eu sou do Pineapple Popsicle, vulgo PPZ, (e correspondente do Tranzine também!). Mas o que você tá achando do pessoal aqui ?
F. - Acho que neguinho tem que beber mais.
T. - Como foi a situação lá em Brasília?
F. - Lamentável... Sabe qual é a parada? Política, política, política. Pegaram a gente como bode expiatório. Infelizmente a lei só existe pra pobre, rico não tem lei, é só isso...
T. - Quanto a questão da liberdade de expressão, o que você tem a dizer sobre o governo tentar impor uma semi-liberdade de expressão?
F. - Se o próximo disco do Planet Hemp falar sobre aborto, será que a Igreja vai cair em cima?...
T. - Como vai ficar daqui pra frente?
F. - Jogar bola, ir a praia, beber cerveja, ver as mulheres, só isso.
T. - E quanto à mary?
F. - Que mary?
T. - Marijuana...
F. - Não fumo.
T. - Falou Formigão, valeu.
MARCELO D2
T. - Já vou te dizendo, não sou polícia que nem o Formigão achou... O que você tem a dizer sobre a deprimente situação em Brasília?
MARCELO D2 - É difícil falar agora, tem que tomar um pouco de cautela porque o processo tá rolando ainda, não dá pra ficar falando muito né cara.
T. - Você tá sabendo que vai ter a passeata terça-feira, acha que vai adiantar alguma coisa ou só é mais uma daquelas passeatas isoladas em razão de uma causa e tal?
M. - Eu não sei se vai adiantar pra causa, mas pro Planet vai ser bom, pra banda ficar mais forte. Daí o pessoal vai ficar sabendo que a gente não tá sozinho.
T. - O pessoal fala de liberdade de expressão mas acho que o delegado quis se promover...
M. - Foi uma operação armada pro cara aparecer no Fantástico e quem pagou o pato foi a gente.
T. - Gabeira é importante?
M. - Pra caralho, Gabeira foi tipo pai, não só politicamente mas como camarada. É um cara bom pra caralho de trocar ideia, um cara inteligente pra caralho. Foi bom pra suportar a barra, pois a vontade que eu tinha era de mandar o cara tomar no cu. Mas não podia se não ia ficar 15 anos lá.
T. - Gabeira sendo político, às vezes é mais importante do que um músico ter ido lá dar força, ele é um cara influente lá dentro...
M. - O cara é deputado, fala melhor que a galera.
T. - Trataram vocês legal, alguma agressão?
M. - Só moral, física não.
T. - O pessoal da MTV, e também quem gosta do som da banda, esteve dando apoio. Como você gostaria de agradecer?
M. - Com todo respeito que eu tenho pela MTV e por todo veículo de comunicação, isso daí vendeu muito jornal, deu muito IBOPE. Eu agradeço muito mesmo ao pessoal da MTV e não a corporação MTV. A gente tem muito amigo lá dentro, Astrid, Rodrigo e mais uma porrada de gente. Agora a corporação ganhou dinheiro com isso, mas quem tava preso era a gente.
EDIT (2024): O juiz Vilmar José Barreto Pinheiro, que mandou prender os integrantes da banda Planet Hemp em 1997 por apologia às drogas, foi condenado em 2013 à aposentadoria compulsória por ter supostamente recebido propina de R$ 40 mil para conceder liberdade provisória a um traficante em Brasília...
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TEXTO: Fernando Miranda
ENTREVISTA: Fernando Miranda & Rodrigo Siqueira