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Linhas abstratas
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Edição #17
Rio de Janeiro, 2011

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“DKANDLE tece paisagens sonoras transcendentes vibrantes e multicoloridas, misturando texturas Shoegaze difusas e reverberantes, meditações Dream Pop hipnotizantes, tons Grunge lamacentos e tensões Post-punk temperamentais, intensificadas com lirismo comovente e vocalizações emotivas e pensativas”

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É um pensamento muito comum na sociedade o de que os usuários de drogas são os financiadores do tráfico. O objetivo dessa matéria é provar que isso é uma falácia.

Vamos começar lembrando sobre o que aconteceu nos Estados Unidos com a proibição do álcool na década de 1920. Por motivos moralistas de cunho religioso, as bebidas, que até então eram vendidas livremente, passaram a ter o seu consumo totalmente proibido. Quem fosse pego vendendo ou bebendo ia para a cadeia. Claro que ninguém deixou de beber por causa da proibição. O resultado? Os usuários se tornaram marginalizados, muitas vezes correndo risco de vida por causa da procedência duvidosa da bebida; por outro lado, a máfia se estabeleceu, e em pouco tempo o número de crimes triplicou. Muitas pessoas foram presas pelo simples fato de terem bebido. Muitos outros foram mortos em guerras entre gangues e a polícia. Quanto mais proibida, mais fortalecida ficava a máfia, porque quanto maior era a restrição, mais cara se tornava a bebida, e consequentemente mais dinheiro e mais armamento as máfias obtinham. Até que o governo finalmente parou e pensou, é, bem, não adianta proibir, gastamos milhões de dólares numa guerra inútil, vamos legalizar... Então as bebidas saíram da ilegalidade, a rede de tráficos foi desmantelada da noite para o dia, a violência diminuiu drasticamente, milhares de pais de família passaram a levar o sustento da casa trabalhando em fábricas de cervejas, e o governo passou a receber quantias exorbitantes de dinheiro proveniente da indústria de bebidas alcoólicas. Agora responda, quem financiou todo o tráfico de álcool nos Estados Unidos, os usuários ou o governo com a sua proibição?...

O Brasil foi o primeiro país do mundo a proibir a venda de maconha. Trazida da África pelos escravos, a erva era associada à marginalidade e sofria muito preconceito por grande parte da sociedade branca. No início do século 20, entre outras coisas como a prática de macumba e de capoeira, a maconha foi proibida no Brasil, e nos anos seguintes outros países tiveram a mesma atitude, resultando em ser uma erva com a comercialização proibida na maioria dos países do mundo até hoje. Tudo por causa de preconceito racial de homens do passado, que viviam numa época bastante diferente da nossa. De lá para cá, muita coisa mudou, a prática da macumba e da capoeira são garantidas por leis federais, mas quanto à legalidade da maconha, a mentalidade continuou tacanha.

O que vejo é muitos com a ideia utópica de que, proibindo as drogas, o seu acesso será mais dificultado, então elas não chegarão tão fácil até os seus filhos, e assim sentem-se mais seguros. Pois esta sensação de segurança é pura ilusão... O fato é que, proibidas ou não, as drogas sempre serão consumidas. Sempre. Não adianta proibir, porque se fulano quer experimentar maconha, ele vai experimentar, seja ela proibida ou não. Não é a sua proibição que impedirá o seu acesso. Na verdade, o usuário corre muito mais risco de vida usando drogas ilegais.

Quando o cara quer comprar maconha na Holanda, ele se dirige até um coffeeshop e é recebido por um atendente remunerado, com direito a férias e plano de saúde, que vai lhe mostrar um menu onde ele pode escolher o tipo de maconha que quer comprar, e então paga pelo produto e pode consumir ali mesmo, sem ter que ser exposto a nenhum tipo de violência. Parte do seu dinheiro servirá para pagar impostos e tributos que beneficiarão ao Estado.

Já no Brasil, quando o cara quer comprar maconha, ele tem que se manter na marginalidade, pois obrigatoriamente terá que se envolver com traficantes, pessoas sem muitos escrúpulos (a não ser que plante em casa). Muitas vezes o usuário de maconha brasileiro arrisca a sua vida subindo o morro, indo em boca de fumo, estando vulnerável a atos de violência extrema, afinal está lidando com bandidos armados, que vivem trocando tiros com a polícia em emboscadas ou com outros traficantes. Quantas pessoas inocentes já morreram e ainda terão que morrer comprando drogas em morro?... Fora que, pelo fato de ser uma mercadoria ilegal, muitas vezes ela vem "malhada", misturada com amônia e outros tipos de substâncias prejudiciais à saúde. Se fosse legalizada, o usuário teria a garantia de não levar "gato por lebre". "Misturas feitas por traficantes tornam as drogas ainda mais nocivas" (Acabei de ouvir o William Bonner falando isso no Jornal Nacional! =P).

​Além de o usuários ter que se meter com traficantes barra pesada, o que mora em países onde ela é ilegal ainda corre o risco de ser pego pela polícia e ir para a cadeia ou ter que negociar a sua liberdade através de propina, contribuindo para corromper ainda mais a sociedade (propina muitas vezes feita ao mesmo policial que também tomou propina da boca de fumo para deixá-la funcionando). O usuário poderia estar dando o seu dinheiro para uma organização legal, gerando divisas para o Estado, mas ao invés disso, devido ao fato do governo proibir o comércio daquela erva, infelizmente o seu dinheiro será usado para fortalecer ainda mais o tráfico e a corrupção policial. Azar da sociedade e culpa do Estado incompetente. Ou seja: o próprio governo proíbe e com isso faz gerar o tráfico, e depois vem dizer que o usuário é quem sustenta o tráfico... Não! Se não fosse a proibição, não haveria tráfico nenhum, logo, quem sustenta a existência do tráfico é o Governo com a sua proibição!

O mais sensato a fazer seria reconhecer a hipocrisia da situação atual e ver que o tráfico é exterminado não através da repressão, mas através da legalização da substância proibida. Com a legalização, o tráfico desaparece, e então o governo deve fazer campanhas educativas, não as que pregam que "drogas fazem mal", mas mostrando todos os prós e contras, sem disfarces - a informação como ela deve ser, ser esconder nem inventar nada. A partir daí, quem deve decidir se vai usar ou não é a própria pessoa (desde que seja maior de idade e tenha discernimento intelectual o suficiente para saber o que faz). Cada um deve fazer o que quer, cada um é dono de si, e ninguém deve dizer a mim o que eu devo ou não devo fazer. Os holandeses têm uma atitude cultural que prega "Faça o que quiser, só não enche o meu saco". Vejo isso como o mais perfeito modo de respeito e civilidade pelo livre arbítrio do outro. Afinal, que cada um tome conta da sua própria vida (não se inclui nessa categoria os usuários de crack e outras drogas pesadas, estes são casos à parte que merecem outro tipo de tratamento).

Mas assim como o álcool foi proibido e legalizado nos EUA, a tendência é que no futuro próximo a maconha também seja legalizada. Pensando bem, é um absurdo que o álcool, uma droga muito mais prejudicial do que a maconha, seja legalizado e a maconha não. Quantas pessoas cometem assassinatos, se viciam ao ponto de "lamber o chão", destroem suas vidas por causa do álcool, e no entanto, todas as noites vemos propagandas de bebidas alcóolicas no horário nobre da TV. Já a maconha, que deixa o usuário relaxado, reflexivo, numa boa vibe, é demonizada e penalizada com cadeia. Que planeta estranho esse em que vivemos... Mais estranho ainda é vermos pessoas criticando o uso de maconha com um copo de cerveja na mão...

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