
Edição #18
Florença, 2025

A própria essência da música evangélica não permite que Dioniso se manifeste - mas ele é essencial para a música secular, por isso os dois estilos nunca irão combinar.

A música evangélica é esterilizante. Os evangélicos sufocam e matam qualquer manifestação de Dioniso, e com isso demonizam o que não é “louvor”. Ela é inimiga da música mundana: existe uma clara separação entre “música de Deus” e “música do mundo”.
Na música "mundana" sempre tem dois elementos, que são dos deuses gregos Apolo e Dioniso. Apolo é o conceito, o racional; Dionisio é a metáfora, o caos. Os evangélicos veem Dioniso como o diabo, eles nunca vão aceitar a presença de Dioniso na sua música. Só Apolo aparece no louvor. Por isso não tem como naturalizar o louvor com música mundana. Água não se mistura com óleo!
É muita ingenuidade acreditar que um evangélico qualquer vai achar música mundana aceitável, de Deus. O evangélico nem precisa ser fundamentalista para ter essa atitude, pois ela é a essência do louvor evangélico. A atitude de pastores cantando com músicos "do mundo" é pura demagogia. Eles fazem isso para as pessoas acharem que são modernos, de mente aberta, só que é balela… Eles fingem isso para no final “darem o bote” e tentarem nos converter. SEMPRE SERÁ ASSIM! O sonho de todo crente é instituir a Bíblia como a Constituição e transformar o país num Brasilquistão Evangélico.
O sincretismo é possível entre o catolicismo e a umbanda, mas não com o louvor evangélico... No sincretismo, ambos os católicos e os umbandistas respeitam a outra religião - os evangélicos não têm essa humildade. Eles são super arrogantes, pois o âmago da sua existência é dizer: "Cheguei para te salvar, pois eu tenho a Verdade e você não". Eles vão sempre querer nos converter, pois só eles são os possuidores da Verdade Eterna e Imutável. 🙄
Artistas seculares que se misturam com evangélicos forçam muito a barra querendo que a gente ache normal essa associação com gente que nos abomina. É um erro deles tentar naturalizar essa união com quem nos vê como mundanos sujos. São dois mundos que se chocam. Segundo esses artistas, cantar um louvor evangélico é uma maneira de incentivar uma conversa respeitosa entre partes que estão polarizadas. Mas por que estão polarizadas? Os evangélicos são respeitosos? Não, e de forma bem gritante! São eles mesmos que trazem essa polarização - demonizam tudo que vai contra a sua cartilha moral: LGBTs, praticantes de religiões de matriz africana, etc. Como pode ser possível não estar polarizado com pessoas que acham que nossa aniquilação deve ser celebrada e desejável?
O fato de um grupo religioso fundamentalista crescer não deveria ser motivo de apoiá-lo, pois o resultado será o retrocesso. Imagine um cantor secular que passou a cantar temas religiosos muçulmanos no Irã "porque o número de muçulmanos aumentou e devo reconhecer isso". Depois não reclama quando um aiatolá qualquer der um golpe e instituir uma teocracia no seu país - você apoiou essas pessoas com um discurso de que eles mereciam visibilidade, lembra?
A questão toda é que o louvor evangélico se acha "música ungida", "de Deus". Eles claramente acham que sua música é de um patamar superior ao da mundana. Mesmo que queiram passar essa imagem de modernos que aceitam a música não-gospel, no seu âmago sempre terão o intuito de querer esterelizar a música mundana. Sempre vão querer que nos convertemos à sua música onde Dioniso é totalmente apagado.
Resumindo: a música evangélica tem uma certa prepotência de se achar superior à música do mundo. Mesmo que um cantor evangélico passe uma imagem de "olha como sou moderno, até canto com artistas mundanos", no seu âmago o seu único intuito será o de nos converter ao evangelismo. São duas coisas que não se misturam - louvor evangélico e música mundana. Não tem como achar normal essa associação com pessoas que desprezam Dioniso na música.
“DKANDLE tece paisagens sonoras transcendentes vibrantes e multicoloridas, misturando texturas Shoegaze difusas e reverberantes, meditações Dream Pop hipnotizantes, tons Grunge lamacentos e tensões Post-punk temperamentais, intensificadas com lirismo comovente e vocalizações emotivas e pensativas”
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