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Linhas abstratas

CABEÇA FEITA!

Ângelo Palumbo

Publicado originalmente na revista Velotrol

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“DKANDLE tece paisagens sonoras transcendentes vibrantes e multicoloridas, misturando texturas Shoegaze difusas e reverberantes, meditações Dream Pop hipnotizantes, tons Grunge lamacentos e tensões Post-punk temperamentais, intensificadas com lirismo comovente e vocalizações emotivas e pensativas”

Amsterdam  tem droga sim, claro, como tem em qualquer lugar onde se encontra um aglomerado de pessoas. A droga é uma realidade e faz parte da experiência do viver contemporâneo.

Mas é legal levar em conta que, se aqui em Amsterdam ela está mais evidente, é porque o holandês tem uma mentalidade aberta baseada nos princípios calvinistas. As crianças holandesas desde cedo aprendem a discernir o que é "certo" e o que é "errado", não por meio de moralismo enfadonho, mas porque aprendem a conviver com a realidade desde cedo. Todos aprendem suas atribuições sobre responsabilidade individual e cidadania, assumindo o que fazem e encarando com a maior naturalidade do mundo os vícios e problemas da sociedade, deixando de ser a sociedade paternalista que tanto conhecemos, baseada na superproteção, na castração de seus indivíduos e no medo do Papai do Céu. Ninguém esconde nada de ninguém, a hipocrisia e a falsa moral ficam do lado de fora. Isso não significa que tudo se transforme numa excessiva libertinagem, ao contrário, a loucura do holandês é tranquila. Existe um ditado aqui que diz: "seja discreto, porque isso já é loucura o suficiente". Para ser sofisticado assim, o alicerce dessa nação "open mind" está na educação de berço e na estrutura social implantada.

Por mais incrível que pareça, essa compostura toda deriva da civilização mais contracultural e arruaceira que existiu de todos os tempos: os piratas dos sete mares! Mercantilistas desde o princípio, possuem no sangue a necessidade e curiosidade de viajar e conhecer a cultura de povos distantes.

Hoje, Amsterdam, com 700 mil habitantes, ainda conserva sua bandeira pirata, mas é considerada uma "cybercity", estando pronta para ingressar no terceiro milênio com o título de cidade exemplo da comunidade europeia.


MANUAL DE SOBREVIVÊNCIA EM AMSTERDAM

Quando for comprar bagulho, minha recomendação é: aja com naturalidade quando entrar num Coffee Shop. Escolha um que seja menos turístico e menos freak (chega de Bob Marleys!), estufe o peito, levante a cabeça... E procure logo o cara no balcão pedindo o menu. Não fique desconfiado, ele vai pesar na sua frente e o preço é tabelado. Se você estiver na dúvida quanto ao que escolheu, simplesmente prove todos, não dê uma de gostoso comprando 15 gramas de uma vez só, uma graminha tá bom pra começar. Lembre-se, lá dentro é permitido estourar um.

Ainda recomendo que você experimente o haxixe nepalês, já que o marroquino é mercadoria mediana e se encontra espalhado por todo canto.

Não se engane, a política com as drogas leves é a seguinte: não é legalizado, mas sua comercialização é controlada pelo governo. Significa que o Coffee Shop e as lojas de smart drugs são os únicos lugares onde é permitida a comercialização. O proprietário tem que declarar o quanto tem e pagar impostos, sob pena de perda de fiança. Enquanto a mercadoria não tiver entrado no Coffee Shop, é considerada ilegal e contrabando. O "grass" e a maioria dos cogumelos são cultivados aqui mesmo na Holanda e na Alemanha. O haxixe e a heroína vêm de fora.

Venha para cá de mente aberta, absorva a cultura desse país. Aprenda a conviver com os mais variados tipos de gente sem crítica, viva e deixe viver. Vá ao parque, lojas, museus, eventos culturais, festivais, raves... Amsterdam tem pra todo mundo!

 

Quem quiser pode até trazer junto a mãe para passear. Enquanto você fica se "atordoando" nos Coffee Shops, ela pode ficar se distraindo com os vários programas culturais ou fazendo shopping. Mas não misture as coisas e não faça como eu que adoro expandir os neurônios da velha à força e a levei para dar uma banda no Red Light District... Ela ficou bem cabrera com o que viu!

Esse bairro casca-grossa é, desde aqueles tempos, a zona onde os piratas vinham resolver as questões da carne. Hoje séculos mais tarde, a atividade do Red Light District continua a mesma, com a exceção de que agora suas "assistentes sociais" possuem uma estrutura de apoio do governo, com obrigatoriedade a testes e exames periódicos, já que é ponto turístico fortíssimo e a indústria do sexo, ou o pornô-turismo, gera milhões e contribui pesadamente na receita do país.

Entre os junkies de heroína, os traficantes de droga e a polícia, está a massa atônita de turistas que observam as "meninas" expostas nas vitrines, mostrando o "material" e encarando o pessoal com a maior naturalidade, deixando qualquer garotão encabulado.

 

Por tudo isso, a frase que melhor define essa cidade é simplesmente: Amsterdam é "cabeça feita"!

HERÔ-ZERO

 

Para quem estiver se achando o máximo e pensa que esse tipo de experiência é moleza, atenção, esse lance é casca-grossa e realmente danoso. O risco de ficar dependente é violento! É necessário ter um profundo conhecimento de si mesmo para avaliar a capacidade de pular fora e evitar a dependência.

É por causa de filmes como Pulp Fiction do Tarantino que essa droga cria em torno de si uma onda cult seduzindo assim muitos jovens desavisados. Quem não controla muito bem, está abrindo uma PORTA PARA O INFERNO!

Recomendo dar uma olhada nos mortos-vivos que circulam por aqui e ver que tipo de transformação ocorre com o junkie de heroína. É DE IMPRESSIONAR!

A heroína na Holanda é tratada como vergonha nacional e considerada problema número um. É um assunto muito polêmico globalmente e aqui na Holanda existe uma política de "fechar meio olho", já que o narcotráfico também traz divisas ao país. O holandês tem o maior bode de tocar nesse assunto. O glamour dessa droga é puramente desinformação. Não seja bobo, existe mil e uma outras coisas para curtir em Amsterdam.

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Edição #3
Rio de Janeiro, 2000

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com influências orientais

Cabeça feita!

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