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Edição #12
Rio de Janeiro, 2009

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“DKANDLE tece paisagens sonoras transcendentes vibrantes e multicoloridas, misturando texturas Shoegaze difusas e reverberantes, meditações Dream Pop hipnotizantes, tons Grunge lamacentos e tensões Post-punk temperamentais, intensificadas com lirismo comovente e vocalizações emotivas e pensativas”

Justamente por isso é impossível, com a linguagem, alcançar por completo o simbolismo universal da música, porque ela se refere simbolicamente à contradição e à dor primordiais no coração do Uno-primogênito, simbolizando em consequência uma esfera que está acima e antes de toda aparência. Diante dela, toda aparência é antes meramente símile: daí por que a linguagem, como órgão e símbolo das aparências, nunca e em parte nenhuma é capaz de volver para fora o imo da música, mas permanece sempre, tão logo se põe a imitá-la, apenas em contato externo com ela, enquanto o sentido mais profundo da música não pode, mesmo com a maior eloquência lírica, ser aproximado de nós um passo sequer.

 

A dialética otimista, com o chicote de seus silogismos, expulsa a música da tragédia: quer dizer, destrói a essência da tragédia, essência que cabe interpretar unicamente como manifestação e configuração de estados dionisíacos, como simbolização visível da música, como o mundo onírico de uma embriaguez dionisíaca.

A música é um caráter e uma origem diversos dos de todas as outras artes porque ela não é, como todas as demais, reflexo [Abbild] do fenômeno, porém reflexo imediato da vontade mesma e, portanto, representa, tudo o que é físico no mundo, o metafísico, e para todo o fenômenos, a coisa em si.

Schopenhauer, em O Mundo Como Vontade e Representação, diz: "A música é, quando encarada como expressão do mundo, uma linguagem universal no mais alto grau, que inclusive está para a universalidade dos conceitos mais ou menos como esses conceitos estão para as coisas individuais. A sua universalidade não é de modo algum aquela universalidade vazia da abstração, mas de uma espécie completamente diversa, e está ligada a uma nítida e completa determinação. Assemelha-se nisto às figuras geométricas e aos números, os quais, enquanto formas universais de todos os possíveis objetos da experiência e a todos aplicáveis a priori, não são, apesar de tudo, abstratos, porém intuitivos e inteiramente determinados. (...) A metafísica difere de todas as outras artes pelo fato de não ser reflexo do fenômeno ou, mais corretamente, da adequada objetividade [Objektität] da vontade, porém reflexo imediato da própria vontade e, portanto, representa o metafísico para tudo o que é físico no mundo, a coisa em si mesma para todo fenômeno. (...) As melodias são em certa medida como os conceitos universais, uma abstração da realidade. (...) Os conceitos contem tão-só as primeiríssimas formas abstraídas da intuição, como, por assim dizer, a casca externa das coisas, sendo, portanto, abstrações; a música em contrapartida, proporciona o núcleo mais íntimo, que precede toda configuração, ou seja, o coração das coisas. (...) Os conceitos são os universalia post rem [universais posteriores à coisa], a música porém dá os universalia ante ream [universais anteriores à coisa] e a realidade dá os universalia in re [universais na coisa]."

O poeta da palavra não alcança a suprema espiritualização e idealidade do mito; o músico criador pode conseguir a todo instante.

Entendemos por que uma cultura tão raquítica odeia a verdadeira arte; pois teme que se dê através dela o seu ocaso.

Que ninguém tente enfraquecer a nossa fé em um iminente renascimento da Antiguidade grega; pois só nela encontramos nossa esperança de uma renovação e purificação do espírito alemão através do fogo mágico da música.

A tragédia está sentada em meio a esse transbordamento de vida, sofrimento e prazer; em êxtase sublime, ela escuta um cantar distante e melancólico - é um cantar que fala das Mães do Ser, cujos nomes são: Ilusão, Vontade, Dor.

Tudo o que chamamos agora de cultura, educação, civilização, terá algum dia de comparecer perante o infalível juiz Dionísio.

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Excertos SOBRE MÚSICA do primeiro livro de Nietzsche 

A arte é a tarefa suprema e a atividade propriamente metafísica desta vida. Sem objetividade, sem pura contemplação desinteressada, jamais podemos crer na mais ligeira produção verdadeiramente artística.

Cantando e dançando, manifesta-se o homem como membro de uma comunidade superior: ele desaprendeu a andar e a falar, e está a ponto de, dançando, sair voando pelos ares. De seus gestos fala o encantamento. Assim como agora os animais falam e terra dá leite e mel, do interior do homem também soa algo de sobrenatural: ele se sente como um deus, ele próprio caminha agora tão extasiado e enlevado, como vira em sonho os deuses caminharem. O homem não é mais artista, tornou-se obra de arte: a força artística de toda a natureza, para a deliciosa satisfação do Uno-primordial, revela-se aqui sob o frêmito da embriaguez.

Com base em nossa metafísica estética aqui exposta, podemos explicar da seguinte maneira o caso do poeta lírico. Ele se fez primeiro, enquanto artista dionisíaco, totalmente um só com o Uno-primordial, com sua dor e contradição, e produz a réplica desse Uno-primordial em forma de música. Esta música se lhe torna visível, como numa imagem similiforme do sonho, sob a influência apolínea do sonho.

O poeta, como centro motor do mundo, precisa dizer "eu": só que essa "eudade" [Ichbeit] não é a mesma que a do homem empírico-real, desperto, mas sim a única "eudade" verdadeiramente existente [seinde] e eterna, em repouso no fundo das coisas, mediante cujas imagens refletidas o gênio lírico penetra com o olhar até o cerne do ser.

Na medida em que um sujeito é artista, ele já está liberto de sua vontade individual e tornou-se, por assim dizer, um médium através do qual o único Sujeito verdadeiramente existente celebra a sua redenção na aparência. Nós já somos, para o verdadeiro criador desse mundo, imagens e projeções artísticas. Portanto, todo o nosso saber artístico é no fundo inteiramente ilusório, porque nós, como sabedores, não formamos uma só e idêntica coisa com aquele ser que, na qualidade de único criador e espectador dessa comédia da arte, prepara para si mesmo um eterno desfrute.

A melodia é o que há de primeiro e mais universal, podendo por isso suportar múltiplas objetivações, em múltiplos textos.

Como é que aparece a música no espelho da imagística e do conceito? Ela aparece como vontade, isto é, como contraposição ao estado de ânimo estético, puramente contemplativo, destituído de vontade.

Assinalamos a única relação possível entre poesia e música, palavra e som: a palavra, a imagem, o conceito buscam uma expressão análoga à música e sofrem agora em si mesmos o poder da música.

A lírica depende tanto do espírito da música, quanto a própria música, em sua completa ilimitação, não precisa da imagem e do conceito, mas apenas os tolera junto de si. A poesia do lírico não pode exprimir nada que já não se encontre, com a mais prodigiosa generalidade e onivalidade, na música que o obrigou ao discurso imagístico.

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