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Linhas abstratas
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Edição #16
Lisboa, 2011

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“DKANDLE tece paisagens sonoras transcendentes vibrantes e multicoloridas, misturando texturas Shoegaze difusas e reverberantes, meditações Dream Pop hipnotizantes, tons Grunge lamacentos e tensões Post-punk temperamentais, intensificadas com lirismo comovente e vocalizações emotivas e pensativas”

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TAGSdrogasespiritualidadefilosofialiteraturamúsicanietzsche

Para compreender melhor sobre o que se trata o comentário abaixo, é imprescindível que você tenha lido antes o conto "De Coração", publicado aqui no Tranzine na edição # 15. Caso não tenha lido ainda, CLIQUE AQUI para abrir a página do conto (abre em outra janela), e depois volte aqui para ler sobre o embasamento filosófico-literário do conto.

RESUMO DO ENREDO

Daniel, o protagonista, acreditava que, para ser feliz, devia fugir ao máximo das sombras. Ele pensava que ser feliz só seria possível evitando a dor a todo custo – mais do que isso, para ele só era possível ser feliz experimentando ao máximo o extremo prazer, numa leitura exagerada do Epicurismo, que pregava o hedonismo e o “viver o agora” (carpe diem). O que Daniel ignorava é que aquele estilo de vida o deixava bastante desequilibrado. Depois de uma forte experiência, Daniel passa a perceber que, para conseguir o derradeiro bem-estar, precisa saber dosar bem a balança entre o prazer e a dor. A sua experiência com a droga – o conto não deixa explícito que substância ele usou nem se parou de usar depois – levou-o ao melhor dos mundos, onde ele conseguiu alcançar uma forte experiência espiritual, para no segundo seguinte passar para um estado mental de sensação de perda, fracasso, auto-destruição, aniquilação do dharma, fim de todas as esperanças. Após a experiência, Daniel tem um momento de insight, onde percebe como a sua vida é importante.

OS PERSONAGENS

DANIEL - É o protagonista. Ele é músico e tem uma alma artística muito sensível. Daniel ama a sua vida e quer tirar o máximo dela. Seu nome significa “Deus é o meu juiz”. Este nome nos lembra que não devemos julgar os atos de Daniel. Ele passou a enxergar pontos obscuros na sua vida através da sua experiência com drogas, o que de outra forma talvez não teria ocorrido. Quem somos nós para julgá-lo?

A ASTRÓLOGA - É uma personagem muito importante. Daniel ficou muito impressionado com o que ela disse. Ela adverte a Daniel que ele pode vir a ter problemas com drogas.

ROBERTO - Amigo de Daniel que dá uma festa de Revéillon na sua cobertura, em frente à uma praia do Rio de Janeiro.

IEMANJÁ - Deusa do mar na mitologia da Candomblé, uma religião afro-brasileira. É uma tradição muito forte em cidades litorâneas brasileiras as pessoas fazerem oferendas à Iemanjá na passagem do ano, lançando flores ao mar, banhando-se ou oferecendo barquinhos, onde várias pessoas depositam papéis com pedidos à entidade. Daniel não acreditava em Iemanjá, mas não a desprezava – ele a via como uma antropomorfização de uma Força Maior e Real, cuja essência é desconhecida e inacessível aos humanos. Nesse sentido, Daniel acreditou que foi realmente "ajudado" na sua crise por alguma Força Maior.

CLAUDINHO - Traficante. Daniel poderia ter comprado a droga com alguém na festa no apartamento de Roberto, mas vai ao encontro de um traficante na rua, para que pudesse ser incluído no conto o conceito de Paradise-on-delivery, importante para nos revelar os seus pensamentos sobre o acesso à droga.

O POLICIAL - Sua função no conto é dar indicações para Daniel de que alguma coisa problemática poderia ocorrer. Alguém no seu rádio diz que há "um problema no Centro". Em seguida o policial diz a Daniel: "Tome cuidado, esse lugar é perigoso". Este personagem foi inspirado na teoria do sincronismo de Jung: pode existir uma importante ligação entre os acontecimentos. O conceito de sincronisidade vai para além das explicações puramente causais do mundo. Um "problema no Centro" poderia ser um indicativo de problema no coração. Quando o policial disse para Daniel tomar cuidado porque "este lugar é perigoso", ele poderia estar se referindo também ao seu coração.

OS DOIS ANJOS - Os anjos podem ser um delírio, mas podem também ser a consciência e a subconsciência de Daniel, numa leitura freudiana. Apenas um dos anjos fala com ele, porque a comunicação por linguagem direta é feita apenas pela consciência. A subconsciência se faz sempre presente, mas não há comunicação direta. Trata-se de um recurso de realismo mágico (por sua característica de mostrar o irreal ou estranho como algo quotidiano e  comum).

SIGNIFICADO DE AMBIENTAÇÕES

A ÁGUA SUJA - É uma metáfora para a condição de Paraíso paliativo de Daniel: ele queria sentir o Nirvana dos monges budistas, mas se contentava em acessar o Paraíso de forma química, num método que cobra um preço pela compensação das serotoninas "emprestadas", e a água suja traduz essa condição de se contentar com um Paraíso com águas poluídas ("Nossa, que água suja! Mas está bom assim mesmo").

O SOL - É a contradição entre sentir-se em união com Deus através do seu brilho e calor, e ao mesmo tempo esse mesmo Deus poder matá-lo através deste mesmo calor. Foi um fator determinante para que ele passasse a entender que há o bom e o mal em cada coisa. O Sol brilha e traz vida, mas ao mesmo tempo super aquece e (quase) mata.

A MÚSICA - Daniel ouvia uma música enquanto estava alto, e esta música o fazia sentir-se em "outras galáxias", fazendo-o sentir-se uno com ela; mas, de um segundo para outro, essa mesma música tornou-se uma "sinfonia satânica". Foi meditando nela que ele chegou à sua conclusão sobre a vida ser "um jogo de luz e sombras".

FUNDO FILOSÓFICO

De Coração é basicamente sobre a Alegoria da Caverna de Platão. O personagem principal tem uma experiência que faz com que ele tenha uma grande iluminação, quando passa a ver "o Sol fora da caverna": a sua Luz possibilita compreender as coisas além das sombras (irrealidades ou visão aparente e distorcida da realidade). A luz (conhecimento) possibilita ao homem ver a realidade como ela realmente é.

O conto foi inspirado principalmente em dois livros: Paraísos Artificiais, de Charles Baudelaire, e Assim Falava Zaratustra, de Nietzsche. No primeiro livro, o autor explica suas experiências com haxixe e ópio, que serviram de inspiração para descrever a experiência transcendental de Daniel ao usar a droga; e o segundo livro foi inspirador no sentido de ser um conto literário que serve de pretexto para um fundo filosófico.

O método dialético/campo semântico do conto é em torno das oposições Prazer X Dor, tendo em mente as teorias de Platão. Para ele, o Prazer e a Dor estão intimamente ligados. Eles são simbolizados por uma cobra mordendo o próprio rabo. Desde os tempos imemoriais, a cobra é o símbolo da alma: ao mesmo tempo que mostra juventude, rejuvenescimento, pela troca da pele escancara seu lado sorrateiro que pode dar o bote a qualquer momento. Ou seja, tem dupla face: o bem e o mal.

A conclusão de Daniel sobre a vida ser uma sinfonia e o Universo seu instrumento foi inspirada nas ideias sobre música de Nietzsche em O Nascimento da Tragédia.

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