top of page
Linhas abstratas
tranzine.gif

Edição #17
Rio de Janeiro, 2011

podcast.jpg
DKANDLE_Tranzine.jpg

“DKANDLE tece paisagens sonoras transcendentes vibrantes e multicoloridas, misturando texturas Shoegaze difusas e reverberantes, meditações Dream Pop hipnotizantes, tons Grunge lamacentos e tensões Post-punk temperamentais, intensificadas com lirismo comovente e vocalizações emotivas e pensativas”

O álbum Nevermind (1991) é um álbum revolucionário que mudou completamente o cenário musical do rock, do pop e até mesmo de outros estilos. O Nirvana conseguiu levar um som que era do underground para o mainstream. Até então, o rock alternativo era um tipo de música estava restringido a um seleto grupo de seguidores. O público dessas bandas era mais restrito, a sua música não atingia as grandes massas. O que o Nirvana fez foi pegar mais ou menos a fórmula do Pixies, de rock gritado, distorcido e mal tocado com o peso do Black Flag e o pop do Beatles. Foi uma mistura que resultou num som primal, pesado, mas ao mesmo tempo com uma linha melódica harmoniosa, tanto é que algumas músicas do Nirvana foram regravadas por outros artistas como Patti Smith, Sinéad O'Connor e Caetano Veloso, que fizeram versões acústicas que ficaram muito interessantes.

O Nirvana foi o um marco, uma grande exceção. Você já viu todos os No. 1 da Billboard? Cara, a grande maioria é composto por músicas pop. Aí chega em 1991 e de repente tem um rock pesado, 'Smells Like Teen Spirit'. Foi uma anomalia. Depois disso tudo volta a ser como antes: músicas pop no topo, e assim é até hoje. O Nirvana foi um dos únicos a escaparem do esquema imposto pela elite do dinheiro de fazer com que somente artistas não engajados cheguem ao topo.

O que eu gosto do Nirvana é que tem muita verdade no som deles. E eu sinto muita falta disso na música em geral. É quase tudo muito sem autenticidade. As composições do Kurt tinham muita qualidade. Não é à toa que o Nirvana conseguiu chegar onde chegou: teve o reconhecimento do público. Muito ajudado, é claro, pela ajuda “básica” de US$ 50.000 da gravadora Geffen para gravar o álbum Nevermind, e também pela exibição massiva do vídeo-clipe de 'Smells Like Teen Spirit' na MTV. O vídeo começou a rodar despretensiosamente na MTV americana, só que geral começou a ligar pedindo para tocar mais, e o vídeo acabou entrando no Top 10 e em pouco tempo alcançou a primeira posição. Algumas semanas depois o clipe já era o número um na MTV Brasil também. Apesar da Geffen acreditar nos caras e terem apostado neles, ninguém ali imaginava que as vendas do disco ultrapassariam as do Michael Jackson. A tiragem inicial do álbum foi de 115.000 cópias; em poucas semanas estava vendendo 300.000 cópias por semana, chegando ao primeiro lugar da Billboard apenas três meses após o seu lançamento.

A primeira vez que ouvi o Nirvana foi através do vídeoclipe de 'Smells Like Teen Spirit', e quando a música acabou, fiquei literalmente de boca aberta. Para mim foi um impacto e tanto. Alheio ao fato de que aquele álbum iria fazer uma mudança do 0 (zero) para o 1 (um) no cenário musical a nível global, eu simplesmente “caí de cabeça” naquilo. Eu não gostava muito do rock internacional que tocava nas rádios da época, com bandas como Guns'N'Roses, Skid Row, Metallica, achava uma farofada só... O Nirvana trouxe um tal frescor para o rock como nunca existiu antes.

Eu sou um grande fã do Nirvana, até hoje. Gosto muito das músicas, e é uma a minha banda predileta. Acho que o Kurt era muito gifted como compositor. Gosto também da distorção da sua guitarra e da sua voz, apesar de achar que ele não cantava bem ao vivo, mas isso não era lá algo que me impedisse de ouvir a banda. Também gosto dessa coisa dele não tocar maravilhosamente bem. Não gosto de guitarristas muito certinhos e virtuosos, que fazem solos mirabolantes, acho aquilo chatíssimo... Aprecio esse lance low-profile do Nirvana.

Quando conheci o Nirvana, quis comprar a minha primeira guitarra. Comecei a tocar sozinho, do-it-yourself, e aprendi a tocar várias músicas do Nirvana e de outras bandas como Ramones e Titãs. Acabei conhecendo alguns caras e formamos uma banda, o Pregnant Felix, que era muito influenciada pelo Nirvana, pelo menos da minha parte (mas os outros caras curtiam também, talvez não tanto quanto eu), além de outras influências. Começamos a fazer ensaios, mais ou menos durante um ano; tocávamos alguns covers de algumas bandas e compomos algumas músicas. Depois de um ano ensaiando todo final de semana, decidimos que era a hora de fazer um show. Conseguimos um espaço num evento que iria rolar em 9 de abril de 1994. A gente tava super excitado. No dia do show, fui de manhã num caixa eletrônico, e na volta passei por uma banca de jornal para dar uma olhada nas notícias, e estava lá na capa do O Globo: “Kurt Cobain se Suicida em Seattle”. Na hora não acreditei, mas quando fui ver a matéria… sim, estava lá, tudo em detalhes. Foi um choque e tanto, e a ficha demorou um pouco para cair. Sempre achei esse acontecimento marcante, pois foi o Nirvana que me fez querer ter uma banda de rock, e no dia da estreia da minha banda ao vivo, eu soube que o Kurt tinha morrido... Toquei com uma camisa do Nirvana que eu havia comprado em São Paulo.

 

​Foi um fim amargo, e por isso mesmo não quero falar mais sobre isso. Apenas tenhamos em mente que ele tinha seus problemas, assim todos nós temos. Ele era jovem e inexperiente. Todos nós vamos ter fases miseráveis na vida. Ninguém é imbatível.

Confesso que fiquei muito tempo com raiva, não dele, mas da situação. A raiva era um escudo para não deixar que aquilo me atingisse, por isso eu não aceitava a sua escolha. Levei anos para conseguir aceitar e entender que sentir raiva por isso não faz sentido. Hoje eu adoto a postura de aceitar as escolhas. Apenas lembro com carinho de todas as coisas boas que existiram. Ele está em paz? Acredito que sim. O Kurt era um cara muito digno.

 

Existe muito ego no campo da música e é difícil lidarmos com isso. No próprio underground a gente já encontra pessoas escrotas, imagina quando se está no topo do mundo… Por isso ele dizia que admirava o R.E.M., que eles pareciam santos com tanta serenidade e estando também no topo. 

O John Lydon (Sex Pistols) diz que gosta do Nirvana - pensou até em chamar o Kurt para gravarem alguma coisa juntos -, mas não concordo com ele quando diz que o Kurt não era uma pessoa sensível (como ele disse ser, na sua carta de despedida), pois se fosse, teria pensado pelo menos na sua filha de 2 anos de idade. Mas gente, precisamos ver que a depressão é uma doença, e a pessoa na hora no ato não está com os seus pensamentos muito claros. Isso acontece mesmo com as pessoas mais sensíveis.

 

Eu sou muito grato ao Kurt. Ele era um cara muito foda, eu o admiro muito. Não sei se é porque é aniversário da morte dele, mas eu estou especialmente triste. Antes eu não tinha isso, mas agora quando vejo uma foto dele me dá uma tristeza... Por isso botei a foto dele aqui sorrindo. É assim que gosto de vê-lo.

A Courtney Love disse certa vez que o único lugar onde Kurt pareceu se sentir realmente feliz foi no Rio de Janeiro, onde o Nirvana esteve em turnê em 1993 para tocarem no Hollywood Rock. Pois deveriam ter vindo morar aqui! Quem sabe a história teria sido diferente?... Mas enfim, fica aqui o meu tributo ao cara mais especial que o mundo da música alternativa jamais viu. Vida longa ao rei!

O grunge morreu?
Deixe sua opinião
abaixo

VOCÊ TAMBÉM PODERÁ GOSTAR:

LINDA MARTINI
Entrevista com o baterista Hélio Morais

KURT & COURTNEY
Documentário investigativo

PERGUNTAS BÁSICAS
Para Luciano Vianna

ASSINE PARA ATUALIZAÇÕES
SEJA INFORMADO EM PRIMEIRA MÃO SOBRE NOVAS EDIÇÕES 

Obrigado!

bottom of page