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“DKANDLE tece paisagens sonoras transcendentes vibrantes e multicoloridas, misturando texturas Shoegaze difusas e reverberantes, meditações Dream Pop hipnotizantes, tons Grunge lamacentos e tensões Post-punk temperamentais, intensificadas com lirismo comovente e vocalizações emotivas e pensativas”
Bom dj - O bom dj, na minha opinião, tem que fazer boas mixagens e ótimas seleções. Se você conseguir colocar tudo junto você vai ser um excelente dj. É dífícil sentir a pista, ter a malícia de saber a hora de tocar aquela música. Isso sem contar que você tem que pesquisar, ir atrás dos lançamentos, comprar revistas, acessar a internet. Você gasta pra caramba, investe uma puta grana em discos. Todo mundo acha que é fácil, mas não é nem um pouco.
Começo - Eu tive contato muito cedo com a música, na minha casa mesmo, ouvindo muito os discos do meu pai. Escutava no rádio programas de djs americanos e ficava louco. Enquanto meus amigos pediam carrinho de presente, eu pedia discos para a minha mãe. Entrei de cabeça em uns programas de rádio. No começo dos anos 80 começaram os campeonatos de djs e acabei me inscrevendo em alguns. Como não tinha pick-up em casa eu treinava na casa de amigos. Perdi os dois primeiros campeonatos dos quais participei. Depois ganhei sete seguidos, e a partir daí ganhei todos. Era comum darem mixer de prêmio, imagina o monte de mixer que eu tinha em casa.
Caminho - Uma das últimas casas onde participei de campeonato chamava-se Show Business, na Penha, zona Leste de São Paulo. Ganhei o campeonato, o mixer, e mais dez singles importados, que por sinal eram um lixo, tipo ponta de estoque de loja. Fui convidado para ficar na casa. Depois de uns meses mudei de casa e comecei a tocar com o dj Julião. Vinha um monte de gente pra me ver tocar, foi quando estourei na periferia da Zona Leste. A partir daí recebi várias propostas para trabalhar em casas como a Overnight e a Toco. Fui para a Toco, onde toquei 4 anos, e de lá para o Columbia. Certo dia a Erika Palomino me chamou para tocar na festa dela, dentro de um trem. O povo gostou pra caramba do meu som. Toquei junto com o Ângelo Leuzzi, que estava para abrir uma casa e me convidou para trabalhar lá. Eu estava passando por um período difícil. Não conseguia tocar em outros lugares e estava pensando em parar. Foi quando o Ângelo me ligou: A Lov.e vai inaugurar quinta-feira e eu quero que você toque. Estou lá até hoje.
Drum'n'Bass - Em 90 trabalhava em uma loja de disco quando descobri o hardcore, um estilo de música que estava se formando lá fora. Era o início das raves na Inglaterra. O Prodigy, no começo, era um som totalmente esperto e eu comecei a apostar neste tipo de música. A evolução desse estilo virou jungle, que é mais rápido. A Bjork batizou o jungle de drum’n bass na época que namorava o Goldie. Ela disse: Essa música é bateria e baixo, então porque não chamar de drum’n bass? Tem muita gente que fala que jungle é uma coisa e drum’n bass é outra. Besteira, é a mesma coisa.
Passaporte - Teve um evento que vieram vários djs internacionais, entre eles estavam o Bryan Gee (dono da V Recordings) e o Edo Van Duyn. Eles me viram tocar e ficaram loucos: "você tem futuro, vai ter que tocar na Inglaterra". Foi o Bryan Gee quem me levou para a Inglaterra, mas hoje sou empresariado pelo Edo Van Duyn, promoter da festa Movement do Bar Rumba.
BPM - Quando você imaginou que iria dançar uma música a 175 batidas por minuto? Nunca. Eu não sei o futuro da música. Se você acelerar mais a batida vira Gabba, um estilo que chega a 200 batidas por minuto, que só os malucos de Rotterdam dançam. O drum’n bass é a música do futuro, uma coisa muito nova, um estilo amplo de música. Dá para trabalhar bem, colocar elementos de jazz, rock, techno, bossa nova, percussão e fazer várias coisas. Muita gente está trabalhando em cima do drum‘n bass. Tem até uma galera fazendo drum‘n bass acústico.
Evolução - Já toquei punk no começo dos anos 80, new-wave, hip-hop, house, depois toquei techno, acid house em 88. Gosto muito de new-wave. Eu tinha todos os discos do B-52, Devo. O Devo é rápido e é mais ou menos a mesma batida do drum‘n bass, tem tudo a ver. É estranho como tudo no final acaba se encontrando, acaba num ponto em comum. Não faz muito tempo, comecei a gostar de rock, Doors, Jimi Hendrix. Já os Beatles eu adoro, sempre gostei e ouço direto. Gosto também de música brasileira, do Otto, Max, Jorge Ben e bossa nova. Aprendi a escutar as coisas boas, que têm musicalidade. Acho que antes eu não era maduro para esse tipo de música. Atualmente faço uma noite na semana onde toco só músicas dos anos 60, 70 e 80.
Axé - Os brasileiros que moram em Londres não conhecem drum´n bass, nem quem sou eu. Não tem muito brasileiro que vai me ver tocar. Tem umas festas de brasileiros que os caras tocam Roberto Carlos, axé e o caramba. Eu toco mesmo é para inglês.
Toca aquela - Recentemente eu estava tocando em Brasília para umas três mil pessoas e subiu na cabine uma mulher muito bonita, cheirosa. Eu comecei a suar. Pensei: É hoje né... ela chegou para mim e disse: "Oi, tudo bem? Puta, seu som é demais, sabia?". "Pô, obrigado, né meu?" "Deixa eu te falar uma coisa...". Ela chegou bem perto e encostou em mim. Eu fiquei doido, nossa! "Sua namorada não tá aqui não, né?". "Nãããão, eu não tenho namorada.". "Então você pode fazer um favor para mim.". "Eu faço. O quê?". "Não dá pra você tocar um axé para mim?". "Ahhhhhh... porra, eu não sou dj de axé, estou aqui contratado para tocar na casa. Imagina se eu tocar um axé... essa galera vai embora e não volta mais aqui." Ela insistiu, porque achava que eu hipnotizava as pessoas e mesmo tocando axé a galera iria ficar na casa. Imagina, eu ia ser linchado!
Dureza - Eu trabalhava de dia e de noite, mas graças a Deus há 5 anos eu vivo só da noite. Hoje toco quase todo dia, além do trabalho em estúdio. Sou dj profissional há uns doze anos, mas toco desde os dez anos de idade.
Ecstasy - A droga é um grande problema, está aí e usa quem quer, indiferente da música. Se o cara estiver escutando um Sandy & Junior e quiser tomar um ecstasy, ele vai tomar. Não tem nada a ver ficar relacionando droga com música, com dj. Quem gosta da música vem aqui para escutar a música, e quem gosta de escutar a música com droga, escuta. A mídia generaliza. Já li em uma revista que os djs são culpados pelas pessoas usarem drogas. Absurdo. Não precisa escutar som para ficar viajando.
Salada - Estou com um projeto de lançar um álbum com minhas próprias composições. E vou chamar uns artistas para cantar, o Otto, umas pessoas diferentes, uns gringos. Quero fazer um negócio bem diferente. Meu disco vai ter techno, house, funk, umas coisas acústicas, estilo anos 70, na linha de James Brown. Por mais que a música tenha evoluído eu não conheço uma banda que tirou o que os caras do James Brown tiravam, é incrível. Vou trabalhar com tranquilidade, com mais de um produtor. O trabalho sai até o meio do ano que vem, primeiro em Londres. Vou arrumar uns cds promocionais e mandar para os djs tocarem. É um trabalho totalmente voltado para fora do Brasil.
Desastre - Eu acho que nasci para tocar, para ser dj. Se não fosse isso seria o quê? Já fui mecânico, um desastre; fiz abajur para a Tok&Stok, desastre; trabalhei na Bovespa, desastre; já fui boy, tentei jogar bola... a única coisa que eu sei fazer é jogar iôiô. Eu vivo música 24 horas por dia, escuto muita música. Monto um cd com um monte de músicas dos anos 60, 70 e 80 e saio para dar uma volta de carro. Às vezes as pessoas pensam que sou louco, mas o carro é um ótimo lugar para escutar música.
MPBrega - Gosto de umas músicas bregas, acho engraçado, não sei se foi porque eu toquei na época. Minhas irmãs pediam: "toca a música do Rádio Taxi para a gente dançar lenta", aí eu tocava aquela música "Coisas de Casal". Eu lembro que em casa tinha uma tv preto e branco quando apareceu o disco da Rita Lee "Lança Perfume". Meu pai comprou o disco e escutou muito... "Caso Sério", "Nem Luxo, Nem Lixo".
Milionário - Todo mundo acha que estou milionário. Teve um jornal que publicou que eu ganhava 20 mil dólares por apresentação. Mentira. Po, eu nem tenho a minha casa. Moro com meus pais, com minha irmãs, meu cachorro e meus discos. Acho que vou estar estabilizado quando eu conseguir fazer duas coisas: comprar a minha casa e comprar uma casa no interior para minha mãe. Ela sempre quis e pela minha mãe eu faço tudo. O sonho da minha avó era ter uma cadeira de balanço, mas eu não consegui dar porque ela faleceu antes.
Marky Mark - Viviam me pedindo para tocar a música do Marky Mark que tocava no rádio. Eu não tocava de jeito nenhum, odiava. A música tinha um sample de "Love Sensation", um clássico dos anos 70, e eu não admitia que aquele cara tivesse usado aquele sample. Eu ficava muito puto e começaram a me chamar de Marky Mark. E é quando você fica com raiva que o apelido pega. Meus empresários lá fora não gostavam desse nome e mandaram cortar, aí eu virei Marky. Por aqui o povo me chama de Marky Mark, Mark, Marquinho...
Discoteca - Compro em média uns 40 discos por mês. Hoje eu tenho aproximadamente seis mil discos. Guardo tudo no meu quarto. Não tenho uma classificação, simplesmente sei aonde está. Tenho coleções, rock, techno, drum’n bass mas falta comprar uns discos de salsa, pois agora estou gostando desse estilo. Ainda vou virar dj de salsa.
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Edição #6
Rio de Janeiro, 2003
Publicado originalmente na revista Velotrol