Edição #2
Rio de Janeiro, 1999
“DKANDLE tece paisagens sonoras transcendentes vibrantes e multicoloridas, misturando texturas Shoegaze difusas e reverberantes, meditações Dream Pop hipnotizantes, tons Grunge lamacentos e tensões Post-punk temperamentais, intensificadas com lirismo comovente e vocalizações emotivas e pensativas”
Pancadaria eletrônica do ritmo gabba cresce para além das fronteiras da Europa e se espalha
Publicado originalmente na coluna Rio Fanzine, do jornal O Globo
Colaborou Tom Leão
Esqueça tudo que você já ouviu de música barulhenta. Nada - nada mesmo - se compara ao peso do gabba. É a versão eletrônica do hardcore (bom, levando em conta que o hardcore tanto pode ser punk quanto techno ou jungle hoje em dia). E, embora pareça, o nome não foi inspirado no grito de guerra dos Ramones. Mas, lá no fundo, eles têm muito em comum.
A cena nem é tão nova assim: começou a surgir em meados de 1992, na época do boom do techno, na Inglaterra. Contudo, se desenvolveu mais forte em países como a Bélgica, a Alemanha e a Holanda; e aos poucos foi começando a atrair fãs de outros países da Europa. A batida inicial foi extraída de uma música techno de Joey Beltram, "Mentasm", lançada nas raves europeias entre 91 e 92.
Mas só agora os ingleses, por exemplo, estão começando a prestar atenção no estilo. Uma das maiores provas é a nova festa gabba londrina Harder! Faster! Louder! (pesado, rápido, alto, como os punks/hardcore daqui gostavam na época do loudfast/speedcore), que está chamando a atenção de revistas especializadas em cultura underground - e consequentemente, de vários leitores. Por tudo isso, não é errado afirmar que o gabba é uma versão mais rápida e extrema do já ultra-rápido hardcore techno. Só que com um tempero de metal. É o equivalente rave do thrash. Com batidas variando em torno dos 180 e 250 bpms!
Gabba é, basicamente, a repetição ultra-rápida de batidas eletrônicas, com samplers totalmente alterados - e na maior parte das vezes irreconhecíveis - de bandas como Black Sabbath, Pantera, Fear Factory etc.
Não é exatamente techno, fora o fato de ser eletrônico: é muito mais rápido e pesado. E não é exatamente rock: a linguagem musical é bastante diferente. É uma insanidade.
O fato de guitarras de bandas de rock pesado serem sampleadas não faz com que o resultado seja parecido com o som convencional que estas fazem. Estes samplers não têm outra função além de fazer com que a música seja a mais barulhenta possível. O Fear Factory, banda americana, é um bom exemplo de uma banda que têm namorado bastante com o estilo. Eles já lançaram várias versões gabba, como para a música "New Breed (Steel Gun Mix)", por exemplo.
Como todo estilo musical de hoje em dia, o gabba também se divide em sub-gêneros. Há o gabba básico - mais politizado, do qual faz parte o Atari Teenage Riot; a versão hardcore - com músicas violentas e letras repletas de palavrões; e o happy hardcore - que utiliza a batida, mas as letras são ridículas e próximas do dance farofa. Nem é preciso dizer que os gabbers mais radicais (entre eles, skinheads) odeiam a galera happy. E as brigas são inevitáveis entre as turmas.
Contudo, em geral a podreira vence. Que o digam artistas do gênero como DJ Torture, DJ Cocksucker, DJ Fistfuck... Estes são apenas alguns dos nomes "simpáticos" que os DJs de gabba costumam ter. E o nome das músicas também não ficam atrás. Que tal "Pussy Poison" (do DJ Fistfuck) ou "Pump that Pussy" (do Original Gabber)? Outras são mais tradicionais, como "Headbanger" (Original Gabber), "Terrordrome" (High Energy) e "I’ll Show You My Gun", do Annihilator.
Gabba, cujo termo não se deriva do inglês "to gab" (falar rapidamente) e sim da gíria de rua holandesa "gabber" (camarada, um jeito de os punks, hooligans e skinheads se tratarem, tipo o nosso "mano") não tem nada a ver com bandas como o Prodigy, por exemplo. É muito mais pesado. E muito mais animal.
A música é tão rápida e barulhenta que os expoentes da cena aconselham as pessoas a usarem protetores de ouvido quando estão num clube, pois as chances de haver algum problema de audição são enormes!
Entre alguns clássicos do gabba incluem-se "Life of Destructor", do Ultraviolence, lançado na Inglaterra em 94 - um álbum essencial para quem quiser conhecer o estilo; o D.O.A., ou "Disciples of Annihilation", que inclui, para se ter uma ideia, uma música com samplers de "Fucking hostile", do Pantera; as coletâneas "Hardcore Terror", "Hardcore Cyberpunk", "Terrordrome" etc . É só imaginar tudo isso em cima de uma batida techno, três vezes mais rápido! Este é um exemplo típico do intenso e nervoso mundo gabba. Música só para quem tem ouvidos de aço.
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