Edição #9
Rio de Janeiro, 2006
“DKANDLE tece paisagens sonoras transcendentes vibrantes e multicoloridas, misturando texturas Shoegaze difusas e reverberantes, meditações Dream Pop hipnotizantes, tons Grunge lamacentos e tensões Post-punk temperamentais, intensificadas com lirismo comovente e vocalizações emotivas e pensativas”
Lana Hosser
Fonte de ocupação para muitos filósofos, se algum deles tivesse chegado a uma conclusão, provavelmente não teríamos tantos conflitos sobre o que é a verdade, mas seria possível chegar à uma verdade? Se a verdade não pôde ser dita por um homem nem tampouco definida, concluímos que a verdade pode ter várias faces. Faça um teste: uma situação presenciada por muitos pode ter muitas versões, mas isso não altera o fato, que continua a existir. Não é novidade que a história é contada pelos vencedores, se assim ocorre estamos dando crédito de verdadeira as declarações do vencedor. Onde está a versão do vencido?
O que nos daria uma visão clara de determinada situação seria ouvir as versões, mas o que usualmente acontece é que esta segunda versão fica oculta, ficamos assim, à mercê da suposta verdade que é dita pelo herói. Vivendo em uma sociedade que se acredita independente, mas que é manipulada a todo o momento, sociedade esta que acredita estar fazendo o seu papel para formar a grande massa de engrenados da sociedade, sociedade que "clona" pessoas todos os dias. É "verdade": Somos todos clones felizes! Felizes por pertencer a uma sociedade que homogeneíza a todos. O pior é que se formos observar as matrizes estamos ferrados! A mídia, grande cientista partícipe dessa clonagem em massa, mostra-nos dia-a-dia quem são os modelos top de linha. Observe-se "clone" perfeito dos famosos! Imagine: sua filha série 993451. Está faltando muito pouco para a gente andar com o número de série com direito a código de barras!
Diante deste quadro, é provável que os "clones" de nossa geração não queiram saber se existe uma outra versão. Porque será que o diferente nos incomoda tanto? Verifiquem-se os verdadeiros genocídios executados durante nossa história, inclusive dos nossos índios. Não vamos muito longe... outro dia vi um documentário sobre uma tribo indígena. O detalhe é que todos estavam usando sandálias havaianas!!!!
Se não conseguimos tolerar uma cultura mais próxima que é a do nosso índio, que dizer das culturas mais afastadas? É impossível para o cidadão ocidental perceber os valores dos que vivem no oriente médio. Aquelas roupas, o modo de viver, a fé, tudo isso formando um conjunto insuportável. Como alguém pode se sujeitar a viver daquele modo? Não é isso o que nos perguntamos?
O orgulho das mães dos homens-bomba tampouco poderá ser compreendido por nós. Assim como para estas mesmas mães não há como ter orgulho de um filho que não cumpra missão mais nobre.
Temos visto muito ultimamente sobre este povo e diante de tanto contato com esta cultura, que faremos nós com este conhecimento? Repudiaremos ainda mais o que nos é estranho e incompreensível ou passaremos a repensar nossa atitude diante do que nos é diferente?
Como estamos construindo a nossa verdade? Estamos tendo uma outra versão? Ou compramos simplesmente aquilo que nossos heróis nos contam? Quem constrói a nossa verdade é a mídia ou nós?
É especialmente difícil lidar com estas questões em nossa sociedade, em virtude da cultura imediatista que, ao invés de refletir-se como indivíduo, procura soluções que sejam mais práticas e rápidas. Exemplo? Posso escolher entre um analista para rever meu comportamento compulsivo de comer ou comprar um xenical ou ainda comprar um vestido novo!
O xenical vai me dar uma solução para o meu problema de peso em excesso (é uma solução rápida), o vestido novo vai me dar uma sensação de prazer por estar na moda e me sentir bonita (no mesmo momento). Soluções rápidas, mexo no sintoma, mas não mexo na causa. Não é este o nosso comportamento?
Temos outras opções para lidar com esta questão de outras culturas; ao invés de cultivarmos a tolerância, podemos exterminá-los do planeta! Basta encontrar um motivo aceitável. Mesmo porque, é mais fácil. Não teremos que rever nosso modo de pensar e talvez descobrir que estávamos errados!!! Que triste seria se somente depois de muitos e muitos anos pedíssemos perdão pelos nossos crimes! Depois que milhões foram executados apenas e tão somente por causa do seu modo viver!
"Se você não conhece a história, estará sujeito a repeti-la" é o que dizem, mas o que estamos fazendo é exatamente: conhecer bem a história para repeti-la melhor, com mais tecnologia e precisão. Este é o resultado de muito tempo de "adestramento" humano. Depois de muito treino não precisamos mais usar nossa capacidade de reflexão. Afinal de contas poucos têm consciência de que possuem.
Reflexão, questionamento e mudança de atitude são artigos em escassez em nossa atualidade. É uma pena.
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